por Paulo Valzacchi - paulo@cebinet.com.br
Era uma daquelas noites onde a sede de conhecimento começava por brotar logo no início do dia. À porta do templo, íamos entrando ritualisticamente, um a um, levando conosco a certeza de sairmos de lá com um pouco mais de sabedoria.
Ao entrar na grande sala oval, o mestre com um meneio único de cabeça nos direcionou para o lado sul da sala. Pudemos observar ao centro uma linda imagem devidamente posta em cima de um pedestal de mármore. "Certamente, a meditação de hoje será sobre concentração", logo pensei. Todos estávamos em profundo silêncio contemplando a estátua, então, sentei em postura adequada e fui também realizando esse exercício. Pude então observar algumas pequenas rachaduras na estátua e isso me deteve a concentração; foquei justamente o defeito da estátua. Como isso podia acontecer? Era a estátua de uma bela jovem com uma encantadora roupagem, tocando uma esplêndida harpa. Era magnífica, mas as pequenas rachaduras começavam mais e mais a se evidenciar.
Ficamos horas, parados, apenas em estado de observação, o que me rendeu uma ótima experiência, uma vez que fiquei esgotado de apenas olhar e julgar e passei a observar meus pensamentos.
Após esse tempo eterno de angústia, o mestre se levantou e nos levou para o lado norte do templo. Todos nós mais uma vez nos sentamos e pudemos contemplar a outra face da bela estátua. Pude então observar que não havia sequer uma rachadura, a luz tênue aveludava a minha visão e os contornos da estátua me levaram a deixar de julgar, num estado de total pacificação. Apenas realizei minha experiência.
Após mais algumas horas, o som de um pequeno sino interrompeu o silêncio quase estático da sala. O mestre levantou-se e em poucas e profundas palavras nos mostrou como funciona a nossa mente. Sempre estamos procurando algum defeito, seja em nosso semelhante, no nosso modo de viver, sempre estamos vendo as rachaduras, elas nos incomodam, não temos a percepção de que existe um outro lado, uma outra face a ser explorada. De maneira bem simples o mestre falou-nos sobre a percepção, o julgamento e a pacificação da mente. Mostrou-nos na prática como ocorre quando queremos mudar as pessoas pelos defeitos que elas apresentam aos nossos olhos e por fim não conseguimos ver o lado belo da pessoa, a julgamos como um todo, o que na verdade não detém uma realidade.
Ficamos mais algumas horas pensando sobre o que o mestre havia ensinado, o que mais tarde teve grande impacto em minha vida rotineira.
Em nossos relacionamentos muitas vezes focamos os defeitos dos outros, seja com amigos, familiares, filhos, ou qualquer outro. Esses defeitos não permitem que avaliemos o todo, queremos então mudar aqueles defeitos (as rachaduras) e esquecemos as coisas boas (a beleza) que o outro também tem.
Julia uma de minhas pacientes chegou pela primeira vez ao meu consultório reclamando massiçamente dos defeitos de seu companheiro. Pedi que fizesse uma relação dos defeitos dele e dessa maneira um a um ela foi colocando no papel. Depois de alguns minutos, pedi que ela colocasse algumas virtudes, o que realmente não foi uma tarefa fácil, demorou muito tempo para ela listar duas ou três qualidades.
Na verdade, a mente de Julia estava tomada pela raiva e pela frustração e dessa maneira uma névoa espessa fora criada em sua percepção. Após alguns exercícios pudemos pacificar sua mente e verificar que seu companheiro tinha muitas qualidades, e que ela estava focando justamente o lado negativo e tentando mudar, algo que sempre esteve presente em seu comportamento, mas que somente agora ela vira e não aceitara. Isso causou-lhe frustração.
Certamente não podemos aceitar tudo e dizer sim a tudo. Temos nossas opiniões e o diálogo é um bom passo para mudanças, críticas é o pior caminho a ser trilhado, é como um jogo perdido. Sendo assim Julia começou por enfatizar e compartilhar das qualidades de seu companheiro e pôde assim ter acesso a uma porta chamada confiança para auxiliar nas mudanças.
Quando me lembro desse episódio e no dia de minha instrução no templo, uma pergunta sempre aparecia: "Porque queremos sempre consertar algo?"
Com o tempo consegui entender que estamos sempre querendo consertar algo devido a nossas frustrações e que pouco respeitamos a individualidade de cada um. Queremos sempre as coisas ao nosso modo, muitas vezes pagando um preço caro por isso.
Um caminho essencial é realmente aceitar diferenças. E você tem sempre duas opções: aceitar ou rejeitar. Pagar pelo preço de uma ou outra escolha deve ser sempre refletido, para assim não haver mais frustrações.
Desejo sucesso em sua jornada!
Dr. Paulo Valzacchi
Ao entrar na grande sala oval, o mestre com um meneio único de cabeça nos direcionou para o lado sul da sala. Pudemos observar ao centro uma linda imagem devidamente posta em cima de um pedestal de mármore. "Certamente, a meditação de hoje será sobre concentração", logo pensei. Todos estávamos em profundo silêncio contemplando a estátua, então, sentei em postura adequada e fui também realizando esse exercício. Pude então observar algumas pequenas rachaduras na estátua e isso me deteve a concentração; foquei justamente o defeito da estátua. Como isso podia acontecer? Era a estátua de uma bela jovem com uma encantadora roupagem, tocando uma esplêndida harpa. Era magnífica, mas as pequenas rachaduras começavam mais e mais a se evidenciar.
Ficamos horas, parados, apenas em estado de observação, o que me rendeu uma ótima experiência, uma vez que fiquei esgotado de apenas olhar e julgar e passei a observar meus pensamentos.
Após esse tempo eterno de angústia, o mestre se levantou e nos levou para o lado norte do templo. Todos nós mais uma vez nos sentamos e pudemos contemplar a outra face da bela estátua. Pude então observar que não havia sequer uma rachadura, a luz tênue aveludava a minha visão e os contornos da estátua me levaram a deixar de julgar, num estado de total pacificação. Apenas realizei minha experiência.
Após mais algumas horas, o som de um pequeno sino interrompeu o silêncio quase estático da sala. O mestre levantou-se e em poucas e profundas palavras nos mostrou como funciona a nossa mente. Sempre estamos procurando algum defeito, seja em nosso semelhante, no nosso modo de viver, sempre estamos vendo as rachaduras, elas nos incomodam, não temos a percepção de que existe um outro lado, uma outra face a ser explorada. De maneira bem simples o mestre falou-nos sobre a percepção, o julgamento e a pacificação da mente. Mostrou-nos na prática como ocorre quando queremos mudar as pessoas pelos defeitos que elas apresentam aos nossos olhos e por fim não conseguimos ver o lado belo da pessoa, a julgamos como um todo, o que na verdade não detém uma realidade.
Ficamos mais algumas horas pensando sobre o que o mestre havia ensinado, o que mais tarde teve grande impacto em minha vida rotineira.
Em nossos relacionamentos muitas vezes focamos os defeitos dos outros, seja com amigos, familiares, filhos, ou qualquer outro. Esses defeitos não permitem que avaliemos o todo, queremos então mudar aqueles defeitos (as rachaduras) e esquecemos as coisas boas (a beleza) que o outro também tem.
Julia uma de minhas pacientes chegou pela primeira vez ao meu consultório reclamando massiçamente dos defeitos de seu companheiro. Pedi que fizesse uma relação dos defeitos dele e dessa maneira um a um ela foi colocando no papel. Depois de alguns minutos, pedi que ela colocasse algumas virtudes, o que realmente não foi uma tarefa fácil, demorou muito tempo para ela listar duas ou três qualidades.
Na verdade, a mente de Julia estava tomada pela raiva e pela frustração e dessa maneira uma névoa espessa fora criada em sua percepção. Após alguns exercícios pudemos pacificar sua mente e verificar que seu companheiro tinha muitas qualidades, e que ela estava focando justamente o lado negativo e tentando mudar, algo que sempre esteve presente em seu comportamento, mas que somente agora ela vira e não aceitara. Isso causou-lhe frustração.
Certamente não podemos aceitar tudo e dizer sim a tudo. Temos nossas opiniões e o diálogo é um bom passo para mudanças, críticas é o pior caminho a ser trilhado, é como um jogo perdido. Sendo assim Julia começou por enfatizar e compartilhar das qualidades de seu companheiro e pôde assim ter acesso a uma porta chamada confiança para auxiliar nas mudanças.
Quando me lembro desse episódio e no dia de minha instrução no templo, uma pergunta sempre aparecia: "Porque queremos sempre consertar algo?"
Com o tempo consegui entender que estamos sempre querendo consertar algo devido a nossas frustrações e que pouco respeitamos a individualidade de cada um. Queremos sempre as coisas ao nosso modo, muitas vezes pagando um preço caro por isso.
Um caminho essencial é realmente aceitar diferenças. E você tem sempre duas opções: aceitar ou rejeitar. Pagar pelo preço de uma ou outra escolha deve ser sempre refletido, para assim não haver mais frustrações.
Desejo sucesso em sua jornada!
Dr. Paulo Valzacchi